Aqui estamos novamente em terras nordestinas, desfrutando do calor arejado que tem sido negado a nós, cariocas. O Rio de Janeiro anda insuportável, dias cinzas, chuvosos, até frio já fez! E para combinar com o clima inóspito ainda temos governador e prefeito fascistas, comprometidos com a fé nos privilégios de suas catervas, que transformaram nossa linda cidade num lixo e submetem nosso povo a toda sorte de violência. Ao reler esta introdução sinto um nó no peito pensando nas criancinhas, pobres e negros assassinados pela polícia impune, na Marielle, nas milícias institucionais e toda podridão que nos envolve. Socorro!!!!!!
Comecei a jornada em Recife graças a uma promoção da Gol que só permitia um mesmo itinerário ida/volta. Recife é longe de Maragogi, mas Maceió é mais. Depois de duas horas e meia de voo e o percurso de carro cheguei ávida por uma “horizontal”, dei um mergulho só para confirmar o acerto da minha escolha, pedi uma junkie food num restaurante indicado pela pousada e nada mais, meu primeiro dia não conta.


Ao chegar na praia, depois de muita indagação e desconfiança, decidi adotar a prática dos nativos, larguei minha sacola com dinheiro, celular e cartão de crédito na areia e fui nadar sem me preocupar com o destino dos meus pertences. Ao retornar tudo lá estava como deixei. Parece um sonho, mas pela primeira vez a realidade é mais encantadora do que o devaneio. Porque eu moro no Rio de Janeiro?

A cidade dispõe de uma boa infraestrutura para visitas vapt/vupt, mas não criou atrativos além dos naturais: os bons restaurantes são raros, o único bar dito “charmoso” eu vi durante o dia e não tive o menor interesse em conhecer. Os hotéis e pousadas são caros e sofríveis, pelo menos para quem, como eu, não está a fim de resorts all inclusive abarrotados de comidas, bebidas e crianças com seus recreadores barulhentos e musiquinhas chatinhas. O providencial passeio de buggy dura cerca de 3 horas visitando as praias desde a Ponta do Mangue até a Praia do Centro com paradas estratégicas na Praça dos Cabanos, na Fábrica de Bolachas Maragogi, no Mirante do Alto do Cruzeiro, e, se a maré permitir, desvenda o mistério do mar que se abriu para Moisés conduzir seu povo. O percurso pode ser bem divertido se o guia for bacana como o meu, demos risadas com o drone humano e os quadros entalhados em madeira, painéis coloridos, coco ou raizes imensas para fotos bem peculiares.



A torre de comunicação maculando o perfil da vila, uma aberração instalada no Mirante do Alto do Cruzeiro, de onde se descortina uma vista deslumbrante de Maragogi.
No centro da cidade as antigas construções foram substituídas por uma arquitetura sem personalidade, desmazelada. Falta graça, imaginação, aquele toque que faz a beleza da simplicidade desabrochar. E eles, definitivamente, não sabem, ou querem, construir escadas: nas que “frequentei”, da pousada, do restaurante, do armarinho, da loja de castanha de caju, os primeiros degraus eram muito altos e os últimos, baixinhos. Algum problema com a laje do piso superior? Crendice? Simpatia? Eu tentei descobrir em vão, o moço com quem conversei só dizia que escada é assim mesmo.


O fato é que vi uma casa preservada, linda, no centro de um terreno arborizado, avarandada, com porão e esquadrias altas, possivelmente uma construção dos anos 30/40 do século passado e outra com influência meio “art deco”, bem interessante. O bugueiro, Junior, ainda me mostrou a escola pública que funciona num prédio totalmente descaracterizado, onde as janelas frontais foram emparedadas! Proteção contra ventanias? Nos bairros residenciais e à beira-mar o desleixo continua, com raras exceções, até mesmo nos condomínios, denominados “privês”. Quanto às praias, imagine todos os tons de verde possíveis e esteja certo de que Maragogi vai te apresentar muitos mais. Que beleza de luzes e cores, é comovente, a gente se sente diante de uma obra de arte em suave mutação.
A Praia do Centro de Maragogi não encanta, estive só de passagem para as Galés. Optei pela lancha, mais rápida, confortável e menor; saímos aproximadamente 1 hora antes da baixa-mar, o que foi ótimo porque os catamarãs chegam mais tarde instalando um furdunço que não combina com a serenidade do ambiente.


Depois da Praia do Centro de Maragaogi vem Burgalhau com areia clara, recifes, coqueiros e mar calmo, seguida de Barra Grande que também tem piscinas naturais e imensos bancos de areia onde se instalam parques e bares. O mar é calminho, perfeito para nadar e num certo ponto, quando a maré está baixa, ele se divide num longo caminho até a ilhota mais próxima. Antunes é continuação de Barra Grande, com características semelhantes, depois vem Xaréu e Ponta do Mangue. Não fui a Peroba nem Japaratinga, ambas famosas por sua beleza.
Eu fiquei 4 dias em Maragogi, foi o suficiente para conhecer nosso Caribe, pessoas agitadas certamente teriam desbravado tudo nesse período. Gostaria de ficar mais tempo curtindo as praias, mas gosto de conforto, desde as minhas pesquisas iniciais eu percebi que não era adequado para me instalar num flat por algumas semanas, como me apraz.
Para os que pretendem conhecer Maragogi o importante é planejar de acordo com a tabela das marés, evitando estadias em horários inconvenientes de baixa-mar. As melhores praias ficam longe da Vila e são mal servidas de equipamentos urbanos e comércio, mas há restaurantes que entregam a domicílio, taxis e uma linha de vans interligando todas as praias. E belezura que não acaba mais!!!!