Só rio quando respiro

Desde março raramente saio de casa, às vezes me mudo por algum tempo para outro lugar onde continuo quarentenada sob visual diferente, respirando novos ares.  Agora estou em Alagoas, já passei por um apart pé na areia na Praia de Ipioca, em Maceió, e uma pousada bacana na Praia de Porto da Rua.  No momento curto a Praia do Patacho hospedada num airbnb, sempre desfrutando do mar morninho, do vento refrescante e de longas caminhadas na praia quase deserta, sem máscara, me sentindo livre ao trocar sorrisos com outros desmascarados.  E foi assim que me dei conta da importância do sorriso para o meu equilíbrio, eu pertenço à bolha analógica das gentes sorridentes, sorrir é da minha natureza.  Nesse troca troca aliviado à beira-mar constato que as mulheres são mais receptivas, a maioria que cruza comigo devolve o cumprimento.  Homens caminham circunspectos ou lançam um olhar curioso, sedutor, carente ou conquistador, raramente um sorriso descompromissado. Segundo o google a culpa é do excesso de testosterona!

Nesses tempos fúnebres onde a morte nos espreita em situações corriqueiras e obscurece nosso olhar, esse contentamento natural pode parecer inoportuno, no entanto, a vida tem me mostrado que sorrisos transmitem paz e que mesmo na tristeza é possível sorrir.  Amarelos, enigmáticos, forçados, sarcásticos, benevolentes, amargos, maliciosos e tantas outras versões demonstram a variedade de emoções que lhes são subjacentes.  

Justo quando boa parte da humanidade alcançou uma interação imediata, superando limites de espaço, tempo e idiomas, ergue-se uma barreira que nos distancia mesmo se próximos, blindados numa proteção que restringe a expressão e, quando diante de desconhecidos, impede a comunicação tácita do “parece que estamos na mesma” e consequente devaneio, ou materialização, de novas amizades ou amores.

Gozando do privilégio de ainda viver enquanto 200.000 brasileiros sucumbem à peste e ao desgoverno, continuo sorrindo com esse nó no peito, tentando sorrir com os olhos e buscando um sentido no olhar desses rostos encobertos que passam por mim.