Explode coração, na maior felicidade

A maior festa da cidade, aquela que congrega foliões dos mais variados tipos e crenças num caldeirão de alegria é pagã e isso me diz que, afinal, a humanidade ainda pode ter jeito. Orientados pelo batuque, inebriados pelo álcool e encharcados de calor essa gente vivencia o momento como único, solta o corpo como nunca e se deixa levar na exaltação de uma alegria agendada, que poderia transcender ao cotidiano num carro alegórico displicentemente perdido de seu carnaval. E na tarde da quarta-feira de cinzas, pegando o metro ainda entorpecido pela overdose de prazer, no meio de tantos companheiros de folia, a revolta contra essa felicidade restrita no tempo e espaço e a vontade de ligar o foda-se e fazer da vida algo mais amoroso e divertido, sem tantas imposições patéticas em nome de teorias improváveis que vem transformando o mundo num lugar inabitável e as pessoas em itens mal acabados de uma linha de produção cruel.

Olhares de reconhecimento mutuo das sensações vividas incentivam o dialogo que inicia timidamente e vai se espalhando entre os circunstantes, alcança ate mesmo os mais arredios aos festejos de momo, uns são facilmente cooptados em função da vida de merda que vem levando, outros, indignados, passam a brandir suas bíblias, alcorões e códigos civis, exaltando as qualidades da vida eterna ou da eterna repressão. Em vão! O movimento se expande por todas as composições daquele trem e a cada estação grupos vão saltando já organizados para levar adiante a palavra do deus da alegria, os que entram são facilmente inoculados com o vírus da felicidade aqui e agora, todos se transformam, ninguém mais é o alguém de antes e quem era contra sucumbiu ao próprio veneno.

Milhares de fotos e filmes se espalham pelas redes agregando reforços fundamentais a revolução. Os baianos, num gesto inconcebível até então, abrem mão da sesta e passam a constituir, junto com os cariocas, a vertente principal de disseminação da nova ordem, travando duros embates notadamente com paulistas, gaúchos e políticos, mas dessa vez nada termina em pizza, e sim em gargalhadas gerais por todo Brasil, agora uma nação livre, comprometida unicamente com o bem estar de seu povo.

Embaixada de Pernambuco – Bonecos do Carnaval de Recife e Olinda
Rua do Bom Jesus
Recife/PE

Obama vem a publico manifestar a preocupação estadunidense com os fatos, solicita reunião da ONU, contata as lideranças europeias, exorta a reflexão quanto a Amazônia, pulmão do mundo, nas mãos desses destemperados. Em vão! Italianos e gregos já aderiram ao movimento, russos e irlandeses estão quase; Argentinos topam se também tocar tango além de samba. Os franceses estão bufando ate agora, os portugueses tentam entender o que deu errado nessa colonização e os ingleses, claro, vão decidir na hora do chá.