Cortina d'Ampezzo · Italia

Como em Búzios nas Dolomitas

Descer os Alpes sob uma tempestade de gelo revoluciona os sentidos: o aroma de terra molhada temperada c/hortelã, o barulho das pedras caindo, o horizonte em brumas, a bicharada desaparecida e os ciclistas, pasmem, no vaivém de sempre.

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Nesse giro pelas Dolomitas o q em princípio parecia exaustivo na realidade foi providencial. A partir de Verona eu programei 1 noite em cada vila, pra conhecê-las subindo as montanhas. Em geral estaciono por 1 período maior, carregar mala é bem chatinho, talvez essa não fosse a melhor opção. No entanto choveu bastante, eu teria me entediado, principalmente em Cortina d’Ampezzo, 1 cidadela fantasma nessa época do ano. Eu sabia q os funiculares paravam em maio, mas ninguém divulgava a data, então vim contando c/a sorte q dessa vez fez “ouvido de mercador”: uns 5 dias antes da minha chegada começaram as férias e as obras: havia mais guindastes do q pessoas por onde andei.

E como andei! Cortina é magnífica, impossível parar de admirá-la. A outra diversão na entressafra é comer e beber nos poucos restaurantes abertos, então tem q exagerar na caminhada mesmo debaixo de chuva.

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Quando morávamos em Búzios a estação mais agradável era essa, interagíamos c/os raros turistas q apareciam, em geral gente do Rio. Assim q cheguei em Cortina fui saborear 1 expresso num bar perto do hotel, a moça do balcão estava meio atrapalhada, fez umas bobagens dessas q a gente se entreolha, fala “iihhhh” e cai na risada. Um estadunidense ansioso por atendimento vip não aguentou nossa alegria e teve 1 ataque de rabugice. Nós evitamos nos olhar novamente pela sonora gargalhada q a cena merecia, e, claro, nos tornamos as maiores amigas desde criancinhas. Era o sagrado horário da sesta, não havia nada aberto, as poucas pessoas q perambulavam na cidade só tinham aquele espaço exíguo (mas mto charmoso e bem cuidado) p/bebericar e a outra atendente se ausentou, daí ficou confuso. Nos meus 2 dias em Cortina estive lá algumas vezes, conversamos e rimos bastante.

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Eu pensava q amarone e franciacorta fossem a expressão máxima da produção vinícola do Veneto e da Lombardia, porém, me surpreendi c/uvas como a schioppettina, groppello, chiavennasca, malvasia e vinhos excelentes. Provei os quitutes da tradicional mesa ladina:  não me encantou. E, lamentavelmente, não pude conhecer um pouquinho dessa cultura pq o museu e o centro de artesanato, evidentemente, estavam fechados.

Lá pelas tantas o gel q uso diariamente pra prevenção de osteoporose acabou. Na farmácia a “dottoressa” só encontrou fórmulas mais concentradas, então fui consultar o médico. Levei 1 susto ao chegar na clínica, uns 4 bancos enormes ocupados e pessoas em pé. A secretária decidiu q a consulta custaria 30 euros, avisou q eu deveria ter paciência e me deu 1 número dizendo q se eu quisesse passear deveria voltar em 1 “oretta”. Ao retornar, novamente tudo ocupado, fiquei c/pena do “dottore”.  Logo fui atendida por um senhor bonitão q depois de mta pesquisa no pc e em 2 volumosos alfarrábios descobriu exatamente o outro produto q uso no Brasil. No início foi tenso pq não me pareceu q ele tivesse estudado endócrino na faculdade, mas c/esse desfecho passei a admirá-lo mais ainda. Dottore foi simpático, gentilissimo, telefonou pra farmácia e  fez a encomenda p/eu pegar no dia seguinte. Ele não usava aliança, só podia ser viúvo pq nenhuma italiana é louca pra deixar aquele homem ótimo, desses q dá vontade da gente se espalhar, solto por aí. Ele me deu várias dicas sobre Veneza e só cobrou 10 euros, disse q aprendeu c/minha consulta e, afinal, nem teve q me examinar. Eu me reprimi pra não soltar um “ah, dottore, examina, vai …”!